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sábado, fevereiro 13, 2010

Prenderam o sujo. Quando vão pegar os mal lavados?




Pedro Porfírio - A prisão de um governador no exercício do mandato, fato sem precedentes na história republicana, é apenas a ponta de um iceberg mal cheiroso que revela a existência de um verdadeiro mar de lama na gestão do Estado brasileiro. José Roberto Arruda, 56 anos, mineiro de Itajubá, era franco favorito nas eleições de 2010 até que o Ministério Público e a Polícia Federal passaram a contar com a colaboração de seu principal operador na captação e distribuição de propinas, em negócios sujos, comuns em todo o país, envolvendo políticos sem escrúpulos e empresários insaciáveis. Seu governo era um amplo arco político, envolvendo partidos de todos os matizes, inclusive o seu DEM, PSDB, PMDB, PR e PDT. Até estourarem os primeiros filminhos da coleção particular do seu secretário Durval Barbosa, tinha-se como certa uma aliança na qual o senador pedetista Cristóvão Buarque tentaria a reeleição no mesmo palanque.

Meliante de ficha suja - Arruda não era marinheiro de primeira viagem. Formado na escola da corrupção dos órgãos do Distrito Federal, onde muitos políticos e empresários fizeram fortunas desde os primórdios da Novacap de JK e Israel Pinheiro, o engenheiro eletricista já havia sido pilhado com a mão na massa em 2001, quando foi forçado a renunciar ao mandato de senador pela violação do painel eletrônico do Senado, junto com o falecido ACM, durante a votação do processo de cassação do seu colega e mega-empresário Luís Estévão. Nesse episódio, Antônio Carlos Magalhães acusou a então senadora Heloisa Helena de ter votado pela absolvição de Estévão, pilhado em superfaturamento e desvios de verba nas obras do Tribunal Regional do Trabalho, em São Paulo, que valeram a prisão do juiz Nicolau dos Santos Neto. O que levou o STJ a determinar sua prisão foi a tentativa de suborno do jornalista Edson Sombra, uma figura típica do mundo midiático local. Através de um auxiliar, que tentou apontar como farsante, Arruda mandou comprar um depoimento de encomenda com R$ 200.000,00 de entrada àquele que estava por trás das denúncias negociadas pelo operador, já investigado desde o governo Roriz, onde, aliás, o governador preso iniciou sua carreira política como chefe de Gabinete. Isso tornou inevitável a decretação de sua prisão. Ele estava tentando manipular os depoimentos, como forma de evitar sua condenação, apesar da coletânea de filmes reveladores.

O espetáculo da impunidade - Presume-se que sua prisão fecha todas as portas para que continue à frente do governo do Distrito Federal. Como seu vice, o empresário Paulo Otávio, também está sendo investigado, não será surpresa se o STF acatar o pedido de intervenção, formulado pelo procurador geral da República. Vistos e revistos os fatos relatados, sobram indagações das pessoas decentes que ainda tentam acreditar na viabilidade do regime democrático: e os outros bandidos políticos, quando serão objeto do mesmo tratamento de choque? Até hoje, não se sabe da prisão de nenhum cartola envolvido no mega mensalão federal, capitaneado por José Dirceu de Oliveira e Silva, chefe da Casa Civil do presidente da República, hoje um dos principais formuladores da campanha de Dilma Rousseff, a candidata que Lula tirou do bolso do colete. Nem de tantos outros protagonistas de um balaio de crimes contra o erário, todos minuciosamente detalhados pela Polícia Federal. Ao contrário, o espetáculo da impunidade mostrou seus relevos no próprio âmbito da Justiça, quando o presidente do STF, o diamantino Gilmar Ferreira Mendes, mandou soltar duas vezes o banqueiro Daniel Dantas e ainda, de quebra, abriu processo contra o juiz Fausto Martin de Sanctis, uma espécie de emblema do que ainda existe de íntegro nesses podres poderes, ímpeto que alcançou também o delegado Protógenes Queiroz, punido após ter se recusado a livrar o banqueiro, mediante oferta filmada de R$ 1 milhão. Se Arruda foi mal na tentativa de suborno de testemunha, não vejo diferença na conduta do então ministro Antônio Palocci, envolvido na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, testemunha ocular dos bacanais da nova elite na Brasília desvairada do Lago Sul. Ambos os atos tinham o mesmo afã de desclassificar ou subornar testemunhas. Palocci, no entanto, foi totalmente inocentado no Supremo e não se falou mais nisso. Hoje, pontifica como um dos homens de ouro do PT e pt saudações.

Regime fermenta seu apodrecimento - Tais exemplos servem para demonstrar o que já disse aqui: com raras exceções, a corrupção campeia de cabo a rabo nos podres poderes da República. Ela é decisiva em todos os entes públicos - a começar pelas câmaras municipais, muitas delas beneficiadas por mensalões paroquiais oferecidos por empresas de ônibus e empreiteiros. No entanto, de tanto banalizarem tais delitos, ninguém se sente roubado ou disposto a estrebuchar. A sociedade acostumou-se com a fatalidade da patifaria. No Brasil emasculado de hoje, existem dois tipos de corruptos: os do armário e os já pilhados; os das nossas cores e os adversários. Há alguém mais mal lavado do que o todo poderoso senador José Sarney, cujas façanhas criminosas são dissecadas em detalhes por Palmério Dória em seu livro "Honoráveis bandidos?". O xilindró do governador José Roberto Arruda é o de toda essa canalha que se dedica 24 horas por dia a meter a mão no dinheiro público de um país campeão em extorsão de impostos, comprometendo a democracia representativa, tão trôpega que fermenta seu próprio apodrecimento, tornando-se letra morta ante a hegemonia ostensiva e festejava de quadrilhas de todos os matizes e naipes. Resta saber se a abundância de delitos fará a sociedade perceber que sua omissão é ingrediente cavalar desse triste espetáculo criminoso.

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