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quarta-feira, novembro 10, 2010

Município marcado pela pistolagem vira bom modelo de administração


Jornal da Cidade entrevista prefeito de Canindé


Texto: Dilson Ramos

A chegada em Canindé do São Francisco, no sertão sergipano, é precedida por um contraste: o verde dos terrenos irrigados se reveza com a paisagem formada por mandacarus e juazeiros. Um sol abrasante e a lembrança de crimes de pistolagem recebem o visitante na entrada da cidade que deu a Marcelo Déda (PT) o maior percentual de votos entre os 75 municípios sergipanos: 73,3%. Ali o petista passou a ocupar, no coração dos sertanejos, o lugar que já pertenceu ao ex-governador João Alves Filho (DEM).

A imagem negativa que sempre perseguiu Canindé logo se desfaz. O município onde Marcelo Déda obteve quase dez mil votos, superando seu adversário com uma diferença de 6,2 mil votos, é hoje um modelo a ser copiado pelas demais cidades da região. O atual prefeito Orlando Andrade (PDT), o "Orlandinho", colocou em prática uma gestão inovadora que tirou Canindé das páginas policiais e tornou o município um destino turístico respeitável.

Liderança consolidada na região e hoje no segundo mandato, Orlandinho, político de fala rouca e mansa, afirma que não houve surpresas nas urnas. "Demos a Déda um percentual de 73% dos votos. Foi uma votação expressiva, mas esperávamos algo assim. A parceria firmada com o governo do Estado garantiu essa vitória. A relação de obras que executamos nos dava a certeza de uma grande votação". Em seis anos de mandato, relata o prefeito, foram executadas obras de grande alcance social.

Os moradores de Canindé, lembra Orlandinho, mostraram nas urnas que não queriam de volta um modelo antigo de tocar a coisa pública. "O que aconteceu é que a população atendeu aos nossos apelos e votou maciçamente nos nomes da coligação, em Marcelo Déda, nos nossos senadores e nos candidatos a deputado estadual e federal. Ninguém queria voltar atrás".

Obras como a rodovia Rota do Sertão, explica o prefeito, foram fundamentais para reforçar um projeto de mudanças que começou ainda no primeiro mandato. A eleição de Orlando Andrade pôs fim a um longo e conturbado período vivido pelo município, que viu entrar e sair administradores que ajudaram a construir a imagem de cidade violenta, "terra de pistoleiros".

"Fizemos, em parceria com o governo estadual, o acesso asfaltado ao povoado Capim Grosso. Construímos, numa parceria com Lula, 600 casas populares. Canindé está ganhando um
hospital com setenta leitos", destaca o prefeito.

A lista de obras não para. "Canindé ganhou duas quadras de esportes cobertas, já entregues, um ginásio poliesportivo. Reformamos várias escolas, construímos postos de saúde e tiramos milhares de moradores da poeira pavimentando dezenas de ruas. Melhoramos a qualidade da merenda escolar", enumera o prefeito. O município, que possui um percentual expressivo de famílias pobres, viu o assistencialismo sair do foco. "Tudo isso nos ajudou a mudar o cenário de miséria. Estamos dando dignidade a um povo que estava deixando de acreditar nos políticos".

O combate à miséria rural foi um dos alvos da gestão de Orlando Andrade. Em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), foram investidos recursos em ações que reforçaram a renda e melhoraram a qualidade de vida dos assentados do Projeto Califórnia. "O que temos feito ali é garantir às famílias uma cidadania digna. Meu governo criou uma bolsa, um projeto de renda mínima, que auxilia 2.500 famílias pobres de Canindé com ajuda financeira mensal". Orlando Andrade lembra que o Estado adquiriu propriedades e doou ao MST. "Quem vive nesta terra sabe que tudo isso tem um alcance social importante", afirma.

Turismo

A inclusão social também veio, e com resultados surpreendentes na área de turismo. Apesar do forte apelo turístico que o cânion de Xingó sempre possuiu, a cidade não conseguia se firmar como pólo turístico por causa dos crimes violentos registrados no município e as constantes denúncias envolvendo seus administradores. Orlandinho notou que o espetáculo erguido pela natureza naquele trecho do rio São Francisco poderia gerar renda, emprego e ajudar no seu projeto de revitalização da imagem de Canindé.

"Hoje nossa imagem é outra. Estamos recebendo a apresentadora da TV Record, Ana Hickmann. Fomos mostrados em vários programas de televisão, a exemplo da goiaba de Canindé, que foi destaque no programa da Ana Maria Braga, da Rede Globo. O turismo, que é muito bem gerenciado pela Silvinha (Sílvia de Oliveira), é um dos pontos fortes da nossa administração. Temos atraído turistas de todos os lugares, que ficam encantados com o cânion e com a cultura da caatinga", narra Orlandinho.

Violência

Tirar Canindé do São Francisco das páginas policiais não foi um trabalho fácil para o atual prefeito. A cidade foi palco de vários crimes e sempre teve sua imagem ligada à pistolagem e à administradores envolvidos em atos de improbidade e assassinatos. Tantos abusos levaram Canindé a sofrer intervenção estadual em duas oportunidades.

Os desmandos cometidos por ex-prefeitos fizeram o município sofrer uma intervenção estadual em 1995 e outra em 2001. A lista de crimes de grande repercussão, cometidos no município, é extensa. O ex-prefeito Jorge Carvalho, em 1994, sofreu um grave atentado. O crime foi cometido por pistoleiros. Jorge e a esposa, a ex-prefeita Hortência Carvalho, chegaram a ser presos acusados de participação na famosa chacina que deixou como vítimas o vereador e presidente da Câmara, Ademar Rodrigues de Assis, e mais três pessoas. Outro crime que chocou os sergipanos foi a morte do radialista Zezinho Cazuza. "Felizmente, vivemos outros tempos agora", comemora Orlando.

endereço desta matéria: http://2008.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=81912

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