Páginas

quarta-feira, novembro 10, 2010

Dona Marinhinha faz 90 de história e cultura de Canindé de São Francisco





90 anos de história de Canindé de São Francisco, patrimônio cultural

Maria Ricardo dos Santos, mais conhecida como Dona Marinhinha, de um lugarejo pequeno já enundado pelas águas do RioSão Francisco chamado de "cabeça do Negô", completou 90 anos de idade. Teve 16 filhos e mais de 60 netos. Irmã de seu Daniel da "pedra d´agua antigo vaqueiro que também tem quase 90 anos de idade.


Filha de Canindé de São Francisco, nasceu na fazenda Cuiabá, hoje assentamento do MST-Movimento dos Sem Terra, que ainda leva o mesmo nome predominativo em homenagem a antiga fazenda (Cuiabá) de propriedades da antiga família Britto. Nunca saiu do município e para manter a sobrevivência, dura sobrevivência de sertaneja, fez de tudo na vida como ela mesma fala:
- "fiquei viuva muito cedo, com 14 filhos nas costas para criar, o mais velho tinha 15 anos. Para ajudar no sustento da família eu fazia de tudo, plantava roça, milho, feijão, palma, fazia carvão, carregava feixes lenha nas costas e na cabeça, de infverno à verão. Pescava pitu (Camarão de valioso sabor das águas dos rios) para vender por dúzia na feira da Curituba. Trabalhava de machado, fazia costura, fazia sabão da terra e por fim comecei a fazer panelas de barro por encomenda, que eu aprendi por mim mesma. Eu nunca mais quiz saber de casamento e nem de homem, só fiz criar meus filhos e alguns netos até os dias de hoje.”


Em meio a tudo isso que Dona Marinha fez para sustentação da familia está uma grande arte que, ao menos aqui na região, parece estar se dizimando, se acabando e o pior: sem deixar registros e muito muito menos sucessores. Ao menos do ponto de vista do valor histórico. Essa arte é a de fazer panela de barro, utensílios de argila e vários outros ornamentos e esculturas de enfeites. Era muito comum, na vida do sertanejo, observar que boa parte dos utensílios proviam do barro e até nas casas de senhores abastados elas figuravam.


Uma cultura que não existe olhos para ela; sem incentivo, que não é dado o valor cultural, social e humano que deveria ter merecidamente por ser parte da cultura do povo Canindeense. Um resgate deveria ser feito em nome da arte do barro que predominou por tanto tempo na região. A começar da própria casa (família) de Dona Maria, levando-se em conta que nenhum dos filhos ou netos tiveram o interesse ou o dissernimento para a apredizagem e domínio da técnica. A arte de confeccionar as panelas, potes, bacias e agridais de Dona Marinhinha encerra-se com ela. Um triste fim.


Dona Marinha fazia várias peças diferentes: taxo para mexer pirão e outras finalidades, agridao para lavar mãos, potes, jarras, pratos de vários tipos e formatos, cachimbos, bacias de rosto, etc. Nessa época, 60 anos atrás, o alumínio e o plástico aqui era difícil, diz ela, e além do mais pouca gente podia comprar, daí vinham as encomendas e eram feitas as peças.


Na casinha que ficava nos undos de sua residência ela fazia várias peças por encomenda do pessoal da vizinhança. O trabalho da confecção era árduo, desde a procura pelo barro melhor, passando pelo tipo de madeira para queimar (umburana), confecção e acabamento. Chegava a fazer 10 peças em uma semana, mais as vezes até 6 ao dia. Essa produção dependia do tamanho da peça e da auto estima pessoal que não era fácil com uma vida tão dura como ela levava. O estado de espírito contava muito, em se tratando de que a vida aqui não é tão fácil, memo nos dias de hoje, diz ela.


Hoje a panela de barro é objeto de ornamentação em hotéis, restaurantes, centros de artes e em lugares de grande luxo. Enfeitam salões, ornamenta as mesas nos melhores restaurantes do estilo rústico ao mais clássico, para pessoas de boa classe e apreciadoras de arte. São um verdadeiro toque de especialidade da beleza morbida e rústica, resquicio de uma cultura já dizimada e que tende a desaparecer até do estado de lembraça das pessoas.


Hoje existe até um público especial para elas. Esses objetos ganharam ascensão social, financeira, decorativa, de coleção bem elitizadas. Imagine. Dona maria não guardou quase nada de suas peças , apenas alguns potes, velhos amigos que resistem ao tempo e ao esquecimento.


Bonitas e simples como são, servem para tudo e assenta com os mais variados serviços de prato, não perdendo para baixelas de ouro nem de prata que, aliás, esses elementos são seus parentes bem próximos na carga dos elementos naturais eles são frutos do mesmo processo de temperatura e formação que os fazem parte dos elementos da natureza: terra, água, fogo e ar.


È muito comum se servir, em restaurantes ou casas de almoço, em panelas de barro a peixada, moqueca, sururu, buchada, feijoada e por ai vai. A panela de barro é uma peça que chama a atenção. Pela importância cultural que tem, deveria se tentar, pelo menos na região de Canindé, porque é aqui que falamos e damos direção a essa história de, através da promoção da secretaria de cultura local, orgão da prefeitura, efetuar projetos de resgate, vídeos historiológicos e não deixar esta arte se findar sem um registromeecido de parte da história de Canindé de São Francisco. Promover, por assim infatizar, um resgate cultural.

Segundo Dona Marinhinha, uma única peça chegava a demorar cerca de 3 horas para ser confeccionada. Depois colocada no fogo (forno), esperava-se “dar o ponto” e isso poderia levar dias.

Como intenção de projeto cultural, penso até, que poderia servir de ensinamento e terapia para idosos e outros interessados. É interessante que o corpo do idoso tenha atividades físicas como o dança, exercicios regulares, mais, é preciso valorizar a mente, o intelecto e promover um bem que guardamos para a velhice, ali naquele momento, o diálogo e ainda que se praticasse e revitalisasse as lembranças que fazem dos tempos saudoso, pois é sabido que sem a prática do intelecto muitas lembranças podem falecer e o idos, sem esses exercícios perde a memória com facilidade, justamente pela pouca força do habito de raciocinar e mesmo o simples gesto de pensar.


Uma peça, há época, era vendida por 2.000 contos. Até hoje Dona Marinhinha se diz com disposição para muitos trabalhos. Reclama um pouco da vista. Diz que uma comida feita na panela de barro tem um gosto diferente é bem mais gostoso, principalmente se cozida no fogo de lenha.

Dona Marinha, com o saber acumulado que tem, daria uma ótima professora desse artesanato para idosos como fonte de valor cultural, e tem público para isso, acredite. Além do mais a tradição seria passada adiante, estaria por assim dizer viva. Seria bom, penso.

Em toda a sua vida Dona Marinhinha diz que produziu muitas peças e perde a conta de quantas fez: mais de 1000. Diz:

"Muita gente encomendava e eu chagava até a não dar conta de tanta encomenda." Outro oficio que Dona Marinhinha aprendeu foi a confecção do sabão que se chamava "sabão da terra." Feito rusticamente do sêbo de boi, cinza de carvão, água e muito trabalho. Era igualmente encomendado e não dava para quem queria a encomendava. A maneira como D. Maria fazia as panelas e sabão precisão ser resgatadas.


Quando os trabalhos de construção da usina XIngó estavam chegando ao final da obra, uma equipe de arqueólogos, lideradas pela Doutora Cleionice, vieram fazer escavações no local onde ficava o lugarejo Cabeça do Nego e lá encontraram diversas peças de barro enterradas em um sítio arqueológico. Catalogadas, essas peças foram levadas para o MAX- Museu de Arqueologia do Xingó, aqui em Canindé e estão lá, em exposição até hoje. Vale a pena visitar.


Foi com o barro que o homem se comunicou pela primeira vez, traçando uma linguagem simbólica e hereoglifica e assim nascia os primeiros passos para a escrita. Diz os reistros achados em Ur. Em algumas teorias diz-se que o homem vem do barro, da terra e para ela voltarã.


O adão da bíblia foi moldado de algo semelhante ao barro. Os pergaminhos, na antiguidade, eram guardados em potes de barro; no Egito antigo, os potes tinham valor de ouro. A história está cheia de referências a argila e a sua valorosa contribuição na vida do homem até os dias de hoje é de grande importância.


Dona Marinhinha fez a sua parte e deu, grande contribuição para a historia, cultura, economia e humanitário de Canindé de São Francisco. È uma moeda de valor inestimável. Para os que entendem sua história e contribuição.


Além de ser octogenária e de ter dado a Canindé uma prole enorme que, entre filhos, netos, genros e noras, somam-se ai uma família com mais 60 pessoas.


Dona Maria se iguala a Zé Leobino, Saomão, Dona Didi, aos velhos vaqueiros, canoeiros da região tão sofrida do baixo São Francisco e outros que valem o mesmo peso de ouro e merecem o mesmo reconhecimento do valor histórico e cultural da região.


47 anos, é a idade de um dos potes que ela fez e que ainda se mantém intacto no interior da cozinha de sua casa. Guardando água e matando a sede de filhos, netos e de quem mais aparecer por lá. Prova viva da sua arte para quem quiser ver e apreciar um verdadeiro tesouro de transmissão de fé, luta, vitórias e conquistas, além de fonte de sabedoria viva e que engrandecem ao povo de Canindé de São Francisco, algo para que a história reistre como patrimônio da nossa história e cultura.

Sites onde foram publicados essa matéria e as quais nossos agradecimentos

- www.jornaldosertao.blogspot.com
- www.artigonal.com.br
- www.tonycorreia13.blogspot.com
- www.caninde.se.gov.br
- www.cafehistoria.ning.com

Em especial ao jornaldosertao de Cládio Vasconcelos que fará a impressão desta matéria.

Nenhum comentário:

VOCÊ NO MAPA